27º Dia - Vila Bojuru a Tramandaí a Sombrio-SC

sábado, 30 de abril de 2011

Olá a todos.

Descobri tardiamente que a pousada onde fiquei é a rodoviária! Dei de cara com um banco com quatro pessoas sentadas e conversando. Bem, acontece... Dois velhinhos puxaram conversa comigo e é aquela coisa: de onde vem, para onde vai, qual a cor da sua cueca, você é muito doido de andar de moto, etc. Muito legal, né?

Todo motociclista parece um alienígena, colocando a bagagem na moto e todos olhando. Quando essa etapa termina e você coloca sua roupa todo mundo fica lhe observando. E ao ligar a moto você fica pensando em não fazer nenhum besteira do tipo: cair na frente de todo mundo. E isso eu senti na pele pois a entrada da cidade é de uma terra muito fofa. Fui tateando o caminho até chegar na BR, sem cair.

Hoje eu tomei a decisão de andar mais calmo para economizar combustível, fui mantendo a máxima de 100 km/h. Deu certo, abasteci com 108 km e a média de consumo foi de 25,15, UAU! Parei em Mostardas para tomar um café e finalmente entendi a diferença entre café e café preto. Café preto é café puro. Café é café com leite, genial!

Enquanto eu terminava o meu café, notei quatro motos chegando no posto em frente e abastecendo. Acabei saindo junto com eles e ultrapassei-os, acabando por "liderar" o grupo. Fui na frente sondando a estrada e sinalizando os buracos que encontrava. Parei para abastecer e eles sumiram. Eu os encontrei parados na estrada e parei para conversar, me convidaram a participar do encontro de motociclistas que estava acontecendo em Tramandaí. Não aceitei de imediato pois não tinha certeza se queria ou podia ficar algum tempo. Segui adiante e ficamos nesse passo até chegar em Osório, ora eu os ultrapassava, ora eles me ultrapassavam. Tirei fotos deles em movimento e eles de mim, pena que não peguei o contato deles.

Enfim, todos paramos para fotografar no parque eólico de Osório e fiz amizade com um casal que chegou em seguida, Jorge e Marlene. Um casal simpático em uma Yamaha Midnight 950.

Conversamos, e Marlene me passou seu email. Decidi seguir junto a eles até o encontro de Tramandaí. Fomos direto para a recepção do evento, com churrasco 0800. Foi legal, tinha 2 bois no rolete (que já tinham acabado), carneiro, peixe e ficamos por volta de uma hora até descermos para o centro da cidade onde o encontro acontecia em uma avenida.

É cada figura que aparece em encontros desse tipo... Repare nas fotos o Brucutu e sua moto.

Ficamos juntos pelo menos umas 4h, andamos de um lado para outro, conversamos e fui apresentado à Sílvia e Dalmo, amigos e parceiros do seu Viamão Moto Clube. Ganhei um adesivo do seu moto clube e tiramos fotos juntos. Jorge me convidou para ir para sua casa, mas teria que voltar 80 km, então decidi seguir em frente pela BR 101. Parei para abastecer em Osório e parei somente em Sombrio, já em Santa Catarina seguindo a recomendação do Dalmo de uma pousada atrás de um posto de gasolina.

Claro que não achei e não quis ficar no hotel que tinha perto da BR, entrei em Sombrio e achei o Hotel Maria Rita, R$ 45,00. Muito melhor que o de ontem, onde fui obrigado a dormir no meu saco de dormir e usar minha toalha suja, já que nem toalha e sabonete tinha.

Saí para comer um X-tudo, e como o café da manhã só começa a partir de 08h, vou aproveitar e dormir mais um pouco.

Ainda faltam 1494 km até minha casa. Acho que amanhã eu chego a Curitiba e na segunda, São Paulo. Na terça, BH. Completando assim, 30 dias longe de casa. Um recorde.

Musicas para acompanhar a leitura:

http://letras.terra.com.br/belchior/44462/

http://letras.terra.com.br/belchior/44459/

http://letras.terra.com.br/ze-ramalho/74944/

http://letras.terra.com.br/belchior/344900/

Abraço a todos,

Marcio









Jorge e Marlene, ao fundo, os motociclistas que eu acompanhei até este local.
Como o boi no rolete acabou, ficamos na ovelha
Recordação da minha primeira moto
Olha o Brucutu!
E sua casa, ele dorme aqui realmente.
Esse figura construiu essa moto sozinho, tem motor de Santana



Sílvia, esposa do Dalmo, do Moto Clube Viamão
Jorge e Marlene, on the road




26º Dia - Chuy, Uruguai a Vila Bojuru - RS

Olá a todos.

Hoje acordei preocupado pelo pouco horário que tinha para comprar o restante das coisas e deixar o hotel, fui avisado que só poderia ficar apenas 15 minutos após as 11h. As lojas começam a atender a partir de 09h30m. Poucas estavam abertas antes desse horário.

Enfim, fiz as compras, torrei o restante dos pesos uruguaios e dos dólares. Fiz a bagagem em tempo recorde: 25 minutos. Fui furtado no pagamento da conta do hotel pelo câmbio feito pela recepcionista. O prejuízo só não foi maior porque eu só tinha US$ 40 para pagar R$ 85,00 (R$ 2,12). Como não tinha tempo e nem saco para discutir, deixei prá lá. Que ela faça bom proveito desse dinheiro.

Saí do Chuy e parei em seguida na aduana brasileira para pedir informações. Encontrei com 3 motociclistas que estavam indo em direção à Buenos Aires. Eram uma XT 660R, duas BMW, G 650 GS e R1200. Conversamos sobre a estrada, praias, o que fiz até agora, etc. Mostrei-lhes o mapa que ganhei do Sr. Eugênio em Montevidéu, gostaram muito. Perguntei-lhes se eu deveria declarar as compras e me disseram que era horário de almoço, que deveria passar direto.

Decidi perguntar aos policiais de segurança e contei-lhes que não fui parado na aduana uruguaia, espantaram-se e me disseram que poderia passar. Como não perguntei e não me perguntaram sobre declarar produtos acima de US$ 300, fui embora. Eram 11h45m e eu queria chegar à Rio Grande antes de 13h para pegar a balsa para São José do Norte.

Acelerei tudo que podia, fiz média de 135 km/h. Num ponto da estrada passei por um bando de pássaros que ficam à beira da estrada se alimentando de grãos que caem das carretas. Um deles sobrou: atingiu minha bota e morreu, sinto muito ambientalistas. Esses bandos são muito comuns, segundo me falaram são anús.

Andando forte como andei consegui aumentar o consumo para 11 km/l, UAU! Meu pulso direito tem doído desde ontem. Com esse ritmo a dor aumentou.

Parei para abastecer aos 127 km num posto Ipiranga e fui atendido pelo Patrick, como o primeiro brasileiro que encontrei no Brasil, ontem. Tive que tirar o dinheiro que mantive guardado na mochila, já que não aceitavam cartão de crédito. Tomei um café e um folhado. Conversamos durante muito tempo e acabei trocando minhas moedas que mantive guardadas para pagar os pedágios (claro que nem toquei nelas). Também tive que tirar mais bagagens até achá-las. Contamos as moedas e chegamos a R$ 107,00.

Enquanto isso chegou várias pessoas e todos me perguntavam de onde vinha, como foi minha viagem, para onde eu ia, como era a minha moto. A todos eu atendia com a maior boa vontade, estava bem depois de desistir de chegar à Rio Grande. Tirei fotos de um mural que tem no posto com mapa de várias cidades.

Acabei ficando uma hora parado neste posto. Recebi dicas de onde poderia ver capivaras de perto, já havia ouvido isso e sobre jacarés ontem no Chuí. Esta estrada atravessa a reserva ecológica do Taim, aproximadamente 15 km. Vi capivaras, diversas aves e bovinos. Muito bonito, parei diversas vezes para fotografar. Acabei vendo vários jacarés; quem diria que eu veria isso, fiquei pensando que sorte eu tinha.

Ao chegar a Rio Grande, faltavam 40 minutos para a balsa sair. Na rodovia, em movimento mesmo, eu perguntei a um motorista onde ficava o porto, ele quase perdeu a direção do carro. Logo depois um senhor me parou e me deu mais informações sobre como chegar e conversamos brevemente. Nessa conversa fiquei sabendo que teve que ser operado do coração, de uma corrida de bicicleta no Uruguai e que tinha um amigo que já morreu em Guaxupé – MG. Gente fina.

Finalmente eu cheguei a Rio Grande, e na a balsa já tinha saído: 15 minutos antes do horário marcado. Que coisa! Perguntei onde ficava a lancha e fui prá lá. Deixei a moto esperando a próxima lancha que cabia a minha moto e comi um pastel de camarão feito na hora. Conheci o Carlos, radialista de São José do Norte, uma figura. Finalmente foi a hora de colocar a moto, quase achei que não iria conseguir pois a prancha não permitiria a passagem dos alforges. Arranjaram outra prancha e subi. Eu estava tranqüilo, afinal já tinha atravessado 3 horas de Buquebus em Buenos Aires, 30 minutos de lancha não seria nada.

Foi muito divertido, conversei com vários velhinhos que estavam no banco onde sentei. E com um jovem que naquela hora recebeu uma ligação informando que o seu afilhado acabara de nascer. Felicitei-o e fomos conversando até o fim da viagem. Ele me informou que estávamos na Laguna dos Patos, que tem ligação com o mar e os navios vêm do alto mar em direção ao porto de Guaíba em Porto Alegre.

Finalmente atracamos e fui o último a sair, pois a lancha transporta de um a tudo. Fui auxiliado a tirar a moto e um último esforço para desviar de bicicletas e lixeiras, ganhei a rua. Pedi orientação para pegar a estrada, eram 17h. Não queria dormir em São José do Norte, apesar da minha vontade de comer um peixe.

Recebi indicação de hospedagem na cidade de Tavares, olhei a quilometragem e achei que daria para chegar e abastecer nela. Só que hoje eu estou com a mão pesada mesmo, aos 167 km a luz de reserva acendeu-se. E nada de aparecer um posto de gasolina. Passei pela Vila Bojuru e até vi uma placa de posto de gasolina, mas nada do posto aparecer.

Passei uns 4 km depois da vila e peguei informação correta para chegar ao posto. Tive que atravessar alguns metros de terra fofa e muito cuidado para não cair, pois a frente da moto está muito leve. Abasteci e conversei com um caminhoneiro, Sr. Carlos, 61 anos, de Itu - SP, dirigindo um caminhão 1958 com cabine 1986, longe de casa há quase 30 dias. Conversamos mais algum tempo e atravessei a rua para reservar um quarto numa pousada.


Enquanto eu me preparava para descer a bagagem, parou um motociclista, Hermínio Cardoso, numa CG 125 para colocar óleo de motor. Puxamos assunto e ele estava indo para São José pegar a lancha para Rio Grande. Desejamo-nos boa sorte e trocamos email para contato e fui cuidar de mim. Não sei se anotei errado, mas nunca recebi resposta do email que enviei a ele.

Após tirar a bagagem, fui a um restaurante no quarteirão seguinte e logo depois o Sr. Carlos chegou. Convidei-o a sentar-se comigo. Findo o jantar, café e mais um dedo de prosa com um senhor de 81 anos que já foi caminhoneiro e era dono da casa. Despedimo-nos e voltei à pousada para escrever o blog. Essa pousada é muito simples, nem toalha e sabonete têm, quanto mais internet. Custou R$ 30, fazer o quê? Terei que usar o saco de dormir para conseguir resistir ao cheiro do colchão, pelo menos é limpo e tem banheiro no quarto.

Não quis seguir viagem por vários motivos:

- por ser noite;
- porque a estrada tinha muitas curvas e eu estou muito veloz
- e porque tem um tipo de cachorro do mato, chamado zorro, que atravessa a rodovia. Fora as capivaras.

Tudo isso faz com que a segurança seja minimizada, portanto ficar aqui é a melhor opção. Amanhã eu dou prosseguimento à viagem.

Esse foi um dia muito divertido e leve, em que eu conheci e conversei com muitas pessoas. Vi coisas novas e tirei ótimas fotos. Gostei demais, quero que todos os dias daqui prá frente sejam assim.

Abraço a todos,

Marcio